Carnaval 2009: FOTOS DM (Créditos: Célia Santos)
Antes de lerem esse artigo um tanto extenso, eu gostaria de fazer algumas ressalvas:
Primeiro, eu nunca fui um entusiasta do Axé. Gosto de coisas pontuais como Daniela, Ivete, Jamil.
Nunca gostei de carnaval e tudo que isso implica (assistir carros alegoricos passando na avenida, disputas por sambas-enredo).
Mas tenho que tocer o braço quando falo do carnaval de Salvador. Para aqueles que querem ir e para aqueles que não gostam do assunto, eu recomendo: vá!
Contudo, antes, vale lembrar que tudo o que falam sobre a Bahia é verdade. Ela não cheira bem, o cuidado com as carteiras deve ser redobrado, cameras e qualquer objeto de valor que queira carregar (melhor não carregar nada!) e, principalmente, você deve entrar no clima. E tudo o que falam de bom também é verdade.
Depois disso, eu falo: todo mundo deve conhecer o carnaval de Salvador!
Se você já escutou alguma musica da Bahia deve ter ouvido coisas como “´tá um empurra, empurra aqui, mas tá gostoso”, “pisaram no meu pé, nao quero saber quem foi” faz todo sentido para quem já saiu num bloco.
Lá você perde noção do seu espaço pessoal, você é empurrado o tempo todo, banhos alternados de água, cerveja e alguma bebidinha ice, vc faz amigos, namoros tudo com data e hora para expirar: 7 horas (tempo médio do percurso dos dois principais circuitos).
Estando lá, para aqueles que se deixam levar pelo clima, você entra numa espécie de êxtase coletivo, só comparado a um show de rock ou um culto religioso.
Por isso, já comecem a se planejar, pois os preços são salgados.
Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu – Os anos 1980 foi o ano de mudanças. No começo da década tivemos a ascenção das bandas de rock (geração 80) e encerramos com a melosa melodia do sertanejo “country” brasileiro.
Mas nesse meio tempo, na Bahia, existia um movimento cultural enorme se estruturando. Neguinho do Samba, junto com o Olodum, criou o Samba-Reggae e misturado com Forró, Frevo e o Reggae surgiu o Axé!
Para alivio de uns e tormento de outros, a alegria dos baianos se espalhou rapidamente pelo país no fim da década de 80 e começo dos 90.
Consagrado como uma das maiores manifestações sociais do País, o Axé significa força, energia positiva e votos de felicidade. Por esse motivo, a música feita na Bahia conquistou o país e o mundo.
Com a mãozinha da mídia, o axé foi rotulado, embalado e distribuído se fortalecendo como indústria, produzindo inúmeros sucessos.
Sua origem data na década de 1950 quando Dodô e Osmar começaram tocar frevo pernambucano em guitarras em cima de um caminhão, o primeiro trio elétrico.
Trio elétrico, “veículo sonoro visual “, é a mistura do palco com carro alegórico eternizado por Caetano na musica “Atrás do Trio Elétrico”. Mais tarde, Moraes Moreira, dos Novos Baianos, teria a ideia de subir num trio (que era apenas instrumental) para cantar – foi o marco zero do movimento.
Mas o ritmo explodiu mesmo com a vinda de Daniela Mercury à São Paulo em um show histórico no vão do Masp. Da capital financeira do País, o Axé foi projetada para o resto do nação e do mundo.
Olodum, Timbalada, Araketu, Chiclete com Banana, Asa de Águia, Cheiro de Amor, Eva, Banda Mel, Jamil e uma Noites, Ricardo Chaves, Netinho, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Cláudia Leite, Carlinhos Brawm, entre outros, compõem a cena da musica popular baiana.
Enquanto o axé se fortalecia comercialmente, com endosso de Caetono Veloso e Gilberto Gil, alguns nomes buscavam alternativas criativas para a música baiana. O mais significativo deles foi a Timbalada, grupo de percussionistas e vocalistas liderado por Carlinhos Brown (cuja música “Meia Lua Inteira” tinha estourado na voz de Caetano), que veio com a proposta de resgatar o som dos timbaus, que há muito tempo estavam restritos à percussão dos terreiros de Candomblé.
O sucesso internacional não demorou e logo os nossos artistas foram levar um pouco da alegria baiana para todos os continentes. Artistas renomados como Michael Jackson, Petshop Boys, Dulce Pontes e Luiz Represas se interessaram e “surfaram” por esse ritmo.
Com isso, o turismo que gira em torno do carnaval da Bahia acresceu muito e hoje é uma grande indústria do entretenimento brasileiro.
Em 2010, a secretaria de turismo do Estado da Bahia investiu R$ 10,5 milhões para que meio milhão de turistas foliões pudessem se divertir entre blocos e camarotes.
Confira alguns destaques desse carnaval, segundo o tradicional prêmio Dodo e Osmar:
Melhor Bloco do circuito Barra/Ondina: Nana Banana (puxado por Chiclete com Banana)
Melhor Bloco Avenida: Coruja (puxado por Ivete Sangalo)
Melhor Projeto Visual de Trio: Claudia Leitte
Camarote Mais Bonito: Salvador
Camarote Mais Animado: Nana Banana
Banda Revelação: O Báck (aquela do Lobo Mau)
Melhor Grupo de Pagode: Parangolé (aquele do Rebolation)
Melhor Cantora: Ivete Sangalo
Melhor Cantor: Léo Santana (Parangolé)
Melhor Puxador de Bloco: Saulo Fernandes (Banda Eva)
Melhor Música: Rebolation
Carnaval de Salvador
O Carnaval de Salvador é a maior festa de participação popular do planeta. Criado e mantido pelo povo, trata-se de uma manifestação espontânea e livre, onde o carnal, o lúdico e o físico se misturam com a emoção e a ginga dos baianos que conseguem renovar a folia a cada ano.
O som eletrizante do trio é a deixa para que nos três circuitos – Osmar (Avenida), Dodô (Barra-Ondina) e Batatinha (Centro Histórico) – haja uma verdadeira explosão de alegria. Os blocos afro, com seus tambores e o som orientalizado dos afoxés são um contraponto para essa festa plural – porque é rica de ritmos, estilos e manifestações artísticas – e singular porque é única.
O Carnaval de Salvador atrai multidões. São mais de dois milhões de foliões – baianos e turistas – nas ruas e cerca de 234 entidades em 11 categorias (20 afoxés, 68 afros, 20 alternativos, 22 de samba, 45 blocos de trio, 3 especiais, 3 de índios, 7 infantis, 26 de percussão, 7 de sopro e percussão e 13 de travestidos ) cadastradas na Saltur – Empresa Salvador Turismo, responsável pela organização e coordenação da festa.
A Cidade do Carnaval ocupa uma área de 25 quilômetros, abrigando camarotes, arquibancadas, postos de saúde, postos policiais, além de toda uma infra-estrutura especial montada pelos diversos órgãos municipais, estaduais e federais. Nos seis dias, como nos remete a própria marca da festa, “O coração do mundo bate aqui”, Salvador recebe gente de todo o estado da Bahia, de todo o País e dos quatro cantos do mundo que se unem numa mesma emoção.
Rodrigo Jundi